Tece impacientemente
Não como o tecelão,
que tem o tempo que tem o mundo,
mas tece
também longamente.
Ansiosamente, porém.
Receosa,
de si desorientada,
abalada
nos fundamentos.
Tece teimosamente.
Sem raízes, sem prazer.
Como por castigo,
isolada
no degredo.
Aprendeu a gostar deste silêncio,
como quem se afeiçoou
às paredes de um jazigo,
anos depois
de se ter fechado
nelas.
Assaltada pelo medo,
única intimidade,
entregou-se à vertigem,
proprietária daquela sorte,
porque teima nela.
Enche de ecos surdos
o vazio
onde chama luz à penumbra.
Questão de hábito.
Tece um casulo.
E dali não sairá.
Porque ninguém percebeu
que só à força
se arranca à morte um morto.
De respeitos humanos estão as morgues cheias.
Para descanso dos hipócritas e cobardes.
Ser poeta é dizer algo que antes ninguém nos disse, mas que não é novo para nós.*
ResponderEliminarPois é.
ResponderEliminarE quando tropeçamos em palavras alheias que nos arrancam a confissão "É assim", tocamos um mistério: outra alma consegue dizer, sem sequer nos conhecer, aquilo que nos atravessa as entranhas.