sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Tapete Vermelho

Um rectângulo
no chão.
Ela parada.
Nem p'ra trás
nem p'rá frente.
Anda, põe o pé..
Não diz nada.
Os olhos negros,
lindos..
E aquele olhar,
selvagem,
tem tanto
de teimosia
quanto de medos
irracionais.
Colaram-se-lhe
os dois pézinhos
à terra.
Ao chão.
Só ela sabia,
se porque
o tapete
que tinha diante de si
era vermelho.
Já não se lembra..
Os medos são os mesmos.
E a teimosia.
Quarenta e tal anos
passados.

domingo, 21 de agosto de 2011

predadora perdedora

Afastada pelos homens
afastou de si os homens.
Não reconhece
nem a si própria
a tensão
a solidão
os receios
a ansiedade
o desejo
de companhia
e segurança.
Não poderia ser
resignada
Não suportaria
sentir-se
humilhada.
Tem que ser ela a ditar
as regras.
Até porque os tempos
são outros
e somos
todos iguais.
Toma a iniciativa
quase como um homem.
Parte na noite
como predadora.
Sofre
sem dar parte de fraca
porque é duro
ser
perdedora.

doces mentiras

Desejou outra vez mentiras que já conhecia. Acelerou o fim e partiu para outra, viciada nas doces mentiras. Até que se deu a conhecer e acabou no beco das inseguranças com a voz dele em eco a apontar-lhe injustiças. Fugiu outra vez.

o único jogo

Não o pode confessar a ninguém. Faz o único jogo que pode jogar. Defende que a mulher é igual ao homem e pode fazer exactamente o mesmo. Pois pode. O que não pode é admitir que fica a perder. Nem que, a eles, estas conquistas do feminismo servem muito bem.

mediu

Mostrou interesse. Sem rodeios. Ela confundida. Achou até que devia mostrar-se espantada. Não podia entregar-se assim. Teria que ter bebido muito mais. E por tanto cálculo, ficou sem conhecer os resultados. Estava demasiado apegada àquele cais, para arriscar conhecer o mundo.

janela

Andava à procura de uma porta. Encontrou uma fechada. Aproximou-se e afastou-se uma e outra vez, em silêncio. Diante daquela porta pequena, como se o mundo atrás dela tivesse deixado de existir. Ele: "Quer mesmo entrar? Está fechada.." Afinal o sorriso dela era a janela que ele procurava.

não me viu

O pequeno passou por ele a correr. Não saberia dizer o que mais o comovia, naquele encontro - se o sorriso confiante da criança, o traço conhecido de tristeza no olhar, a memória crua dos dias passados, ou a consciência de estar em presença de si próprio, tantos anos depois.

pose

Saber
ou assim crer
bem calcular
sem se entregar
fingir somente
...encenar
e a sede,
a paixão,
a amizade, até,
fazer pose
com o coração..
E de tanto praticar
este fingimento cruel,
está transformada
em escultura de gelo.
Linda, distante, imponente..
e preenchida
deste vazio que na alma
lhe escavou
o medo
que tem
de viver tudo.
Deixa-se tocar,
mas na pele tem
os anti-corpos
que me hão-de
matar.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

sábado, 13 de agosto de 2011

vazia

Deixei uma mão
vazia
estendida
na rua
à tua porta.
A outra,
escondi-a.
Para não se ver
que não tenho nada.

Que triste
é agora
o teu olhar,
espelho
dessa parede
morta
onde te procuras
refugiar.

E nós?
Somos inimigos?
- deixa-me perguntar..
Estranhos, talvez?
Ou fingimos ambos
tontos
não sofrer
nem esperar?

mesmo a fingir

E se a terra assim fosse,
fosse o que fosse,
poderia parar,
não fugir
de um lado para o outro.
Mas teria mais de mim
para dar
quando passasses?..
E não sentes
o vazio
a roçar-te a pele
por dentro?
Ai, eu sinto..
Mas a quem dizê-lo?
Que de torturas mais
me espera a sorte?
A que outra terra
me entrega
a morte?

Se a terra assim fosse,
fosse o que fosse,
onde estarias tu?
Virias a correr,
se te dissesse
que vou morrer?
Estarias por perto?
Ias deixar-me ver os teus olhos,
uma primeira vez
e a última?
Dirias: "Não te conheço,
e a vida assim é,
seja o que for.."
Não sentes tu
ao menos
esta lâmina
que corta fria
nas carnes
sem dó,
nem o sangue quente
discreto
a verter?

Então diz-me
só,
mesmo a fingir,
que a terra é mais que isto
sendo o que é.
E passa por mim
um instante,
deixa-me ver
se me enxergo
ainda
vivo
reflectido
nos teus olhos.
Mesmo a fingir..
Para conseguir
existir.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

arde

A loucura é dor. Tem de medo, solidão, paixão e amor. É uma alma desalmada. Tremor, frio e labaredas. É querer tudo. É nada aceitar. É andar às arrecuas encostado a uma parede. É ter os olhos cheios de sonhos numa casa sem janelas. É suicídio adiado. É já não saber dizer: "Porque não me vês?"

fechou

Presa. E não tem a quê.. Teme. E não tem o quê. Sofre. E não tem porquê. São hábitos.. É o fim de uma vida? As portas estão todas fechadas? E amanhã? Já está tudo escrito? Ou fechaste o futuro?..

véu

No olhar uma cortina. Os lábios sorriem, mas os olhos já só encenam. Ensombrados.. É dor? Donde vem essa amargura? Quem te magoou? Onde nasce esse temor?. Encontrei uma concha fechada na praia..

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

zona escura

Na penumbra,
fazes teus medos e fantasmas,
antigos os mesmos.
Agasalhas-te de frio e gelo,
hesitas e recuas.
Maquinalmente, agarras a segurança
garantida
pela memória de mágoas guardadas,
de erros e carrascos passados..

Conheces o odor abafado da rotina,
sussuro de casa mortuária.
E não arriscas.
Petrificada, não apercebeste
aquele instante quando
o fascínio de reviver a morte velha
e os demónios,
eclipsou a paixão de descobrir
mais fundo alguém
que mal conseguiste etiquetar..

Esse relógio que contemplas,
bate agora ao ritmo
do teu coração assustado.
O tique-taque perverso diz-te
só o mesmo
e nada desejas de novo.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

baby let's be friends

I can't come up with a better plan
Put your fingers in my hand
Baby let's be friends