quarta-feira, 4 de julho de 2012

horizonte

Sem querer nem sequer parar. Não lhe aconteça ver aquilo que pressentir evita. Daqui à morte, um passo. Nem desejar, nem querer. Anseia o repouso, como um corpo cansado procura cama e o torturado insensibilidade. Vão seria, prometer-lhe felicidade. Quer jazigo.

7 comentários:

  1. Parece que se orientam por bússolas diferentes...*

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    1. É portanto um problema de chaves,pensei que se tratava de um problema de magnetismo.

      Quando era miúda havia na estação um relógio de pêndulo muito alto. Tinha um mostrador redondo em cima de uma grande caixa de madeira à qual eu e os meus irmãos encostávamos a cabeça para ouvir o tic-tac e dizíamos que era o coração do relógio. Quando encostávamos não ouvíamos o tic-tac, pedíamos ao funcionário para pôr o coração a trabalhar. Ele vinha, com um molho de chaves com uma abria a caixa e com outra punha o coração a trabalhar...
      Tens que dar corda!

      Ou então não e eu estou só a dizer asneiras como habitualmente. Desculpa, não ando muito bem.
      Vim só espreitar se o senhor pároco ainda mexe :)

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    2. Um relógio de pêndulo não precisa de corda, obviamente, mas eu juro que fazia tic-tac e o homem o pinha a trabalhar com uma espécie de chave

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    3. O relógio de pêndulo precisa de corda, sim (e é linda, esta tua história, pérola). Precisa de corda (como uma bússola - que, essa, apesar de não precisar, a mecânica, se a tivermos na alma há sempre que esperar pelo dia quando nos seja dado encontrar, no molho, a chave que a destranque). Precisa de corda, o relógio de pêndulo, porque é ela que mantém o pêndulo em movimento. Vai ver o filme "Hugo" - vais gostar.
      Vieste, portanto, aqui espreitar - e dar corda..

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    4. "pérola"? talvez. Com o tempo perdemos a capacidade de ver a vida com a simplicidade com que a víamos em criança. Todos temos pérolas, singelas mas responsáveis por uma visão do mundo mais leve, bonita e despreocupada, tento fazer uso delas sempre que possível para suportar melhor a vida de crescida. Neste momento, como voltei à terra e à casa de infância, num ambiente de cortar à faca, são elas que fazem questão de aparecer, a cada esquina.
      Tenho mesmo que ver o "Hugo", até porque fiquei a pensar em relógios, pêndulos, rodas dentadas... Eu lembro-me do homem pôr o relógio a funcionar com uma chave mas não tenho a certeza de o relógio ter um pêndulo. Era alto, verde, fazia tic-tac e eu pensava que tinha um coração, isso é certo. Se a estação não estiver às moscas, como todas desta linha e tiver um funcionário peço-lhe que o abra, só para matar a curiosidade e ver do que é feito o coração.
      O do sr pároco parece que é de corda e voltou a fazer tic-tac...

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    5. Se era de pêndulo, o relojoeiro da estação teria que dar um leve empurrão ao pêndulo, para lhe iniciar o movimento, depois de lhe dar corda com a chave. É assim. Um relógio parado, sem bater nem sentir, travado pelo susto de se ver sozinho diante do tempo que não admite deter-se, tem de ser reacendido, ressuscitado, pela companhia de uma mão que insiste em acreditar que não morreu, que lhe toma o nervo da vida, aconchegando-o na mão, e o empurra - firme, mas suavemente, com a força apenas indispensável, como quem dá a um esfomeado a porção de alimento que salva, sem lhe dar a demasia que o condenaria à morte.
      Acontece um relógio fechar-se, e fingir-se morto para sempre. Que tamanho o desatino de quem, tendo chave para a corda, não tem acesso ao pêndulo, encerrado na caixa com portinhola de vidro, visível, imóvel, pêndulo de um relógio insensatamente teimoso em abalar a fé do relojoeiro.

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