partes
de pedaços
que juntos
falham sentido
e somá-las
castigo
corrida de obstáculos
sem
meta
sem
prémio
como se os medos
travassem
asas
voos
desejo
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
estrondo
Antes que lhe seja dado o que pediu, apressa-se a erguer a fasquia, inquieta. Prefere o menos, conhecido e subordinado. O alarido serve-lhe de camuflagem, neste encolher de medo. Um truque bem treinado, para que ninguém perceba que aquela ousadia toda em palavras é só fuga à intimidade que a assusta.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
nenhures
Quando tiver tudo arrumadinho e no seu lugar, escolherá rumos e caminhos. Quer tudo perfeito, sinais absolutos. Não aceita fazer ajustes pequenos, arriscar no dia-a-dia. Quer oito ou oitenta por serem inacessíveis.
trémula
Foge de si, trancada por falhanços antigos. Corre em sobressalto que se tornou carburante, viciada na exaustão que sabe virá. Entre o medo de morrer e o susto de viver.
terça-feira, 28 de agosto de 2012
sábado, 25 de agosto de 2012
On prendra le tram trente-trois
Ce soir j´attends Madeleine
Mais il pleut sur mes lilas
Il pleut comme toutes les s´maines
Et Madeleine n´arrive pas
(Brel)
Mais il pleut sur mes lilas
Il pleut comme toutes les s´maines
Et Madeleine n´arrive pas
(Brel)
as nuvens levam isto com graça
Uma e mais vezes
corre o esquilo
às avelãs
Bica o pica-pau
a larva
E bate dentro
um novelo de veias
rasgam, gritam
suadas
peles cansadas
Não há outra vida
senão esta encenada
num ritmo fingido
e chorar não sabe
mais
É já ali à frente
espere o dia
que a noite passe
arrasta-se, adia
surda
Não está
partiu
se dissolver-se pudesse
descansaria
insiste
Percurso
desfocado
cambalear errante
quer a lua
apagada
Que até
o brilho dela pálido
fere
as aparências
insubordinada
E nem sequer é grave
muito menos sério
se outros ventos
procurasse
voaria sem peso
Finca ali
os pés
guarda avelãs (três ou quatro)
matraqueia o tronco seco
onde não mora bicho
As nuvens
deixaram-se aquecer
traçam sorrisos
bailam no azul
Olha para elas!
corre o esquilo
às avelãs
Bica o pica-pau
a larva
E bate dentro
um novelo de veias
rasgam, gritam
suadas
peles cansadas
Não há outra vida
senão esta encenada
num ritmo fingido
e chorar não sabe
mais
É já ali à frente
espere o dia
que a noite passe
arrasta-se, adia
surda
Não está
partiu
se dissolver-se pudesse
descansaria
insiste
Percurso
desfocado
cambalear errante
quer a lua
apagada
Que até
o brilho dela pálido
fere
as aparências
insubordinada
E nem sequer é grave
muito menos sério
se outros ventos
procurasse
voaria sem peso
Finca ali
os pés
guarda avelãs (três ou quatro)
matraqueia o tronco seco
onde não mora bicho
As nuvens
deixaram-se aquecer
traçam sorrisos
bailam no azul
Olha para elas!
não se autoriza
São traços só
de quando passou,
entre escassas memórias
teimosos
Era bom demais,
repete-se:
o querer inteiro
o desejo obcessão
Proíbe-se
obriga-se
expulsa vestígios
desmente a comoção
Entre dois repousos
estancada
aquele que o sol iluminava
e esta agonia parada
Um passarito assustado
nos ramos preso
daqueles olhos frondosos
sonha voar
de quando passou,
entre escassas memórias
teimosos
Era bom demais,
repete-se:
o querer inteiro
o desejo obcessão
Proíbe-se
obriga-se
expulsa vestígios
desmente a comoção
Entre dois repousos
estancada
aquele que o sol iluminava
e esta agonia parada
Um passarito assustado
nos ramos preso
daqueles olhos frondosos
sonha voar
hoje
Correm as mesmas sombras
atrás de sombras
fantasmas de sustos antigos
despertam o sono
gemidos surdos
A vida magoa
de tão viva
e a esperança
parece só castigadora
de sonhos
Falhanços e más escolhas
culpas e futilidades
mal enterrados
recusam-se ao silêncio
espreitam ali à esquina
Já não
sei recordar
o calor do sol no rosto
a luz na pele
os olhos de quem ama
nos meus
Cortar o encantamento
desatar a trança
descer desta torre
ousar dizer
à felicidade
que a quero minha
atrás de sombras
fantasmas de sustos antigos
despertam o sono
gemidos surdos
A vida magoa
de tão viva
e a esperança
parece só castigadora
de sonhos
Falhanços e más escolhas
culpas e futilidades
mal enterrados
recusam-se ao silêncio
espreitam ali à esquina
Já não
sei recordar
o calor do sol no rosto
a luz na pele
os olhos de quem ama
nos meus
Cortar o encantamento
desatar a trança
descer desta torre
ousar dizer
à felicidade
que a quero minha
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
está lá?
Desculpe, mas não posso abrir. Estou à espera do meu príncipe encantado. Ainda espero, imagine-se, depois de tantos equívocos. E não abro. Cheguei a pensar ser ele, até que me apercebi ser mais um primitivo. De cada vez, o mesmo. Que horror, são imperfeitos. Vou arranjar outro, hei-de ter o meu príncipe. Inteligente (mas não mais que eu, seria desconfortável). Meigo (aquele outro era um bruto, afinal, dizia que tenho defeitos, o que considero um insulto inadmissível). Estará presente, será companhia (se me fartar ou me sentir irritada, ponho-o na rua). Virá sempre que o chame (chamarei a polícia, se não quiser sair). Entregar-lhe-ei o meu coração (ou não, se preferir o repouso ao amor, pois é dor a mais). Serei dele (quem manda sou eu). Será bom para mim (iria com patifes, porém). Sincero (sei adivinhar que mente, não me fio, a mim não me engana). E será forte, seguro de si (não suporto o ar de certeza, arma em superior). Há-de vir, o meu príncipe. Estou cansada de primitivos. A mim, já não enganam.
não aconteceu
Esconderam-se os pássaros,
nem memória
deixaram
Não falam as folhas das árvores
e o silêncio
emudeceu
Mil vezes receou,
ocupada a fugir
Não sabia estar,
escorregava-lhe
o presente
pelas escamas
Sopram os ventos
que pavor é sofrimento
e cálculo, cobardia
Vozes que não chegam
àquela concha,
fechada desde que
lhe comoveram
as entranhas
Tirita
longe de um abraço
não vá desfalecer-lhe
no peito
Parou a vida
e o sangue,
guarda-se intacta,
embalsamada,
preserva
o que não existe
E ninguém ousa
saber
se isto é força
ou fraqueza,
onde está
o querer
e o poder,
nem qual o lado
do mundo
que uma porta encerra
nem memória
deixaram
Não falam as folhas das árvores
e o silêncio
emudeceu
Mil vezes receou,
ocupada a fugir
Não sabia estar,
escorregava-lhe
o presente
pelas escamas
Sopram os ventos
que pavor é sofrimento
e cálculo, cobardia
Vozes que não chegam
àquela concha,
fechada desde que
lhe comoveram
as entranhas
Tirita
longe de um abraço
não vá desfalecer-lhe
no peito
Parou a vida
e o sangue,
guarda-se intacta,
embalsamada,
preserva
o que não existe
E ninguém ousa
saber
se isto é força
ou fraqueza,
onde está
o querer
e o poder,
nem qual o lado
do mundo
que uma porta encerra
domingo, 5 de agosto de 2012
anda a monte
Ousada na linguagem, atrevida no simular, irreverente na sedução, desbocada no provocar. Encosta à parede os outros, choca e surpreende, goza o próximo e põe à prova.
Defendida neste jogo, atropela sem olhar. Ligeira, em pose leviana, dá-se ares, finge à-vontade. Até que, confrontada, foge, agarrada à máscara. E repete então não entender, porque dizem dela terrorista.
Era tudo a fingir.
Defendida neste jogo, atropela sem olhar. Ligeira, em pose leviana, dá-se ares, finge à-vontade. Até que, confrontada, foge, agarrada à máscara. E repete então não entender, porque dizem dela terrorista.
Era tudo a fingir.
sábado, 28 de julho de 2012
tem razão
"Só é tua a loucura, onde, com lucidez, te reconheças"
Miguel Torga in Diário XIII (Sísifo)
Torga engana-se. Nesse caso, não é loucura, a menos que estejamos a chamar loucura ao destemor. O louco não se sabe presa da loucura. Recusa admitir que a realidade não seja inteiramente abrangível pela razão. Não se conhece, por isto, a si próprio nem aos outros. Como dizia Chesterton, o louco não perdeu a razão - perdeu tudo, menos a razão. Ocorre pensarmos que o louco é livre, porque não se dobra à realidade. Falso - está refém de si próprio e alienado da realidade e dos outros.
Miguel Torga in Diário XIII (Sísifo)
Torga engana-se. Nesse caso, não é loucura, a menos que estejamos a chamar loucura ao destemor. O louco não se sabe presa da loucura. Recusa admitir que a realidade não seja inteiramente abrangível pela razão. Não se conhece, por isto, a si próprio nem aos outros. Como dizia Chesterton, o louco não perdeu a razão - perdeu tudo, menos a razão. Ocorre pensarmos que o louco é livre, porque não se dobra à realidade. Falso - está refém de si próprio e alienado da realidade e dos outros.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
ilimitada
Definido
medido
pesado
por um fio
uma birra
um capricho
julgamento
em detalhe
sangue novo
tolo de certezas
arrogância
impertinente
adolescência
totalitária
Basta-se
a si própria
cuida
de se elogiar
E houve quem
pensasse
ser por insegurança
antes de a ver governar
medido
pesado
por um fio
uma birra
um capricho
julgamento
em detalhe
sangue novo
tolo de certezas
arrogância
impertinente
adolescência
totalitária
Basta-se
a si própria
cuida
de se elogiar
E houve quem
pensasse
ser por insegurança
antes de a ver governar
terça-feira, 24 de julho de 2012
teimosos
Branca ou preta, talvez. Mas não do arco-íris, pois esta é bandeira que aos homossexuais não pertence. E não tem nada a ver com o direito de o serem ou de o fazerem. O arco-íris é a bandeira das diferenças. O mundo homossexual é o contrário, escolhe o igual, não quer o diferente. É dos heterossexuais esta teimosia em sofrer o atrito da diferença, em se deixar limar pelo contrário, em procurar entendimento com olhares opostos. Enfrentam o desafio eterno da diferença. Não desistem, apesar de se saberem levados por uma paixão que nunca terá sucesso perfeito. Não procuram a perfeição nem se satisfazem com o igual. Querem o diferente. Sucumbem ao fascínio do "outro". É deles a bandeira do arco-íris.
sem defesas
E quando
assim
da rocha sólida
sangram lágrimas
Da seara
luminosa
teimosa de vida
gemidos escapam
sinceros
É por menor
sofrimento?
A franqueza ingénua
é menos profunda?
É mais sério
o sério,
ou
o palhaço?
assim
da rocha sólida
sangram lágrimas
Da seara
luminosa
teimosa de vida
gemidos escapam
sinceros
É por menor
sofrimento?
A franqueza ingénua
é menos profunda?
É mais sério
o sério,
ou
o palhaço?
domingo, 22 de julho de 2012
camuflagem
Quer um bater
abrigar o mundo
Menos a cada um
para nenhum esquecer
E lindo seria
perfeito
se possível fosse
a perfeição
Se uma entrega
não negasse outra
se incluir
não rejeitasse
Sonhos ingénuos
do todo
em terra incompleta
enganam
Ocupar
o lugar de Deus
não depender
nem fraquezas admitir
Não reconhecer
o medo
resistir, defendida,
a entregar-se
abrigar o mundo
Menos a cada um
para nenhum esquecer
E lindo seria
perfeito
se possível fosse
a perfeição
Se uma entrega
não negasse outra
se incluir
não rejeitasse
Sonhos ingénuos
do todo
em terra incompleta
enganam
Ocupar
o lugar de Deus
não depender
nem fraquezas admitir
Não reconhecer
o medo
resistir, defendida,
a entregar-se
sábado, 21 de julho de 2012
adia
E quando, diante dum portão
fechado
Um respirar se sustém
participando
da morte
como-que-fingida,
rasgado entre
a impaciência
de chamar à vida
e o receio
de recusa
Passa uma vida
e cada segundo
é agonia
cadafalso imortalizado
A rocha em areia
se desintegra
em pó fino
desfeita
São só perguntas
e todas
no silêncio
ouvem
não
São só campas novas
num jazigo
em obras
desventrado
É espera
sem promessas
sequer alivada
cega
É dor ténue
presente
que protesta
quando quer
Tortura
vândala, imberbe
feita
senhora e rainha
Dores de um parto
recusado
costas voltadas
a terras ao céu abertas
Um grito
não traz eco
A sinceridade foi banida
Inverno eterno decretado
Há um caminho
e bastaria
um passo, uma chama
que não se faz sem entrega
A morte
aqui
mascara-se
de vida quieta
fechado
Um respirar se sustém
participando
da morte
como-que-fingida,
rasgado entre
a impaciência
de chamar à vida
e o receio
de recusa
Passa uma vida
e cada segundo
é agonia
cadafalso imortalizado
A rocha em areia
se desintegra
em pó fino
desfeita
São só perguntas
e todas
no silêncio
ouvem
não
São só campas novas
num jazigo
em obras
desventrado
É espera
sem promessas
sequer alivada
cega
É dor ténue
presente
que protesta
quando quer
Tortura
vândala, imberbe
feita
senhora e rainha
Dores de um parto
recusado
costas voltadas
a terras ao céu abertas
Um grito
não traz eco
A sinceridade foi banida
Inverno eterno decretado
Há um caminho
e bastaria
um passo, uma chama
que não se faz sem entrega
A morte
aqui
mascara-se
de vida quieta
domingo, 15 de julho de 2012
menos
Trevas
não conhece
tristeza, sim
O fundo do vazio
não viu
passou por angústias
Sabe,
no espaço
que lhe é dado,
gerir
perdas e ganhos
Aprendeu
que infelicidades
são capital
Nem por isso
é rica,
mais vítima
de enganos
que a si própria
traça
Voar,
voaria,
à beira da mão
tem outra vida
Não salta, porém.
Casou com um destino
não conhece
tristeza, sim
O fundo do vazio
não viu
passou por angústias
Sabe,
no espaço
que lhe é dado,
gerir
perdas e ganhos
Aprendeu
que infelicidades
são capital
Nem por isso
é rica,
mais vítima
de enganos
que a si própria
traça
Voar,
voaria,
à beira da mão
tem outra vida
Não salta, porém.
Casou com um destino
sábado, 14 de julho de 2012
concha
Guardou para si
de cada vez
o que a tocava,
comovida
ou magoada
segredos
trancados
privados
Pedras
pequenas,
outras maiores
E hoje tem
um muro
deixou de ver
para além dele
Fechou-se
em terreno minado
Há uma chave,
disse alguém,
para destrancar
aquela engrenagem
perra
Teria sido
(aparentemente)
simples de evitar
se de cada vez
tivesse sabido
revelar-se
entregar-se
confiar
Encerra,
trancada,
uma pérola
que a ninguém salva
e a ela pesa
de cada vez
o que a tocava,
comovida
ou magoada
segredos
trancados
privados
Pedras
pequenas,
outras maiores
E hoje tem
um muro
deixou de ver
para além dele
Fechou-se
em terreno minado
Há uma chave,
disse alguém,
para destrancar
aquela engrenagem
perra
Teria sido
(aparentemente)
simples de evitar
se de cada vez
tivesse sabido
revelar-se
entregar-se
confiar
Encerra,
trancada,
uma pérola
que a ninguém salva
e a ela pesa
quarta-feira, 4 de julho de 2012
horizonte
Sem querer nem sequer parar. Não lhe aconteça ver aquilo que pressentir evita. Daqui à morte, um passo. Nem desejar, nem querer. Anseia o repouso, como um corpo cansado procura cama e o torturado insensibilidade. Vão seria, prometer-lhe felicidade. Quer jazigo.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Méfiez-vous
Ah, rebenta o peito
em tormentos
- diria.
Não arme em poeta
- lhe responderia ela.
Sofrimentos banais,
que não os meus.
Méfiez-vous.
Seguir a voz
não é conselho
que se dê
a quem deixa falar
as entranhas
En garde.
Pisas
sem rede
vertentes
de abismo
Certa a queda
Méfiez-vous.
Tranquilidade, diz
Procura sossego
Nada desejar, aspira
Chama à morte
liberdade
em tormentos
- diria.
Não arme em poeta
- lhe responderia ela.
Sofrimentos banais,
que não os meus.
Méfiez-vous.
Seguir a voz
não é conselho
que se dê
a quem deixa falar
as entranhas
En garde.
Pisas
sem rede
vertentes
de abismo
Certa a queda
Méfiez-vous.
Tranquilidade, diz
Procura sossego
Nada desejar, aspira
Chama à morte
liberdade
sábado, 30 de junho de 2012
ludibrium
E procuras o quê
entre vidas abertas?
Onde leva
esse correr?
Quem sonha
morrer
soma vidas
não quer ficar
Passa
furtivo
conquista almas
sofre a partida
Larga-me
e fica
Chegaste
sem avisar
Prova o bem
com o mal
encosta o céu
à parede
entre vidas abertas?
Onde leva
esse correr?
Quem sonha
morrer
soma vidas
não quer ficar
Passa
furtivo
conquista almas
sofre a partida
Larga-me
e fica
Chegaste
sem avisar
Prova o bem
com o mal
encosta o céu
à parede
cais sem destino
Peças perdidas
razões trocadas
sapatos antigos em caminhos forçados.
Sinais que não soube ler.
Não quer ter escolha.
Fez sempre assim.
E, de cada vez, deitou tudo a perder.
Ficou sempre no cais.
Com o peito em fogo
ao matraquear dos carris,
não ousou nunca saltar para dentro do comboio.
Hoje, tem o passo mais pesado.
O hábito de não correr atrás de comboios
casou com o medo de arriscar.
razões trocadas
sapatos antigos em caminhos forçados.
Sinais que não soube ler.
Não quer ter escolha.
Fez sempre assim.
E, de cada vez, deitou tudo a perder.
Ficou sempre no cais.
Com o peito em fogo
ao matraquear dos carris,
não ousou nunca saltar para dentro do comboio.
Hoje, tem o passo mais pesado.
O hábito de não correr atrás de comboios
casou com o medo de arriscar.
quarta-feira, 27 de junho de 2012
cálculos pequenos
salvar a pele
nem que dela
pouco mais
fique
que restos
de vida
seca
imitações
camuflar
de nobreza
a infâmia
banal
e fugir
nem que dela
pouco mais
fique
que restos
de vida
seca
imitações
camuflar
de nobreza
a infâmia
banal
e fugir
domingo, 24 de junho de 2012
ali
Rios por aí abaixo
e pedras presas
saudades trancadas
tudo orgulho cego
incapaz
Água limpa
e coisas novas
bem travadas
por fantasmas
acarinhados
Parada
tal qual criança
de pés fincados
teimosa
contra evidências
Desolação
vazia
vantagens perdidas
sacos cheios
de nada
e pedras presas
saudades trancadas
tudo orgulho cego
incapaz
Água limpa
e coisas novas
bem travadas
por fantasmas
acarinhados
Parada
tal qual criança
de pés fincados
teimosa
contra evidências
Desolação
vazia
vantagens perdidas
sacos cheios
de nada
sexta-feira, 22 de junho de 2012
enrolada
Irritação
Há que somar-lhe o orgulho
inseguranças herdadas
e acrescentadas
Exigências
altas fasquias
e fobias outras
num reduto de tristeza antiga
Está o caracol
naquela casca
e, de medo,
deixa-se escorregar
Desentendeu-se
com a luz do sol
Há que somar-lhe o orgulho
inseguranças herdadas
e acrescentadas
Exigências
altas fasquias
e fobias outras
num reduto de tristeza antiga
Está o caracol
naquela casca
e, de medo,
deixa-se escorregar
Desentendeu-se
com a luz do sol
quarta-feira, 20 de junho de 2012
fechado fora
Atrás das grades,
ruínas,
dispostas em dobras
Do lado de lá
o mundo fechado
a sete chaves
E não há
vida outra
naquela torre
ruínas,
dispostas em dobras
Do lado de lá
o mundo fechado
a sete chaves
E não há
vida outra
naquela torre
quarta-feira, 13 de junho de 2012
tirita
Uma vez e uma ofensa
um horror
e exageros
dores
mágoas velhas
Partículas
e coisas maiores
o pó da estrada
acumulado
na passagem dos outros
por ali
Sofrimentos
e o medo deles
espasmo
e sede
muito betão armado
e silêncio frio
Tudo
multiplicado
por duas vezes
depois por muitas
mais
E perdeu-lhes a conta
perdeu
o pé
e o bom senso
Enrolada
na teia
que tece, frenética,
de memórias trocadas
não reconhece o presente
nem sabe onde está
A minha menina tem frio
um horror
e exageros
dores
mágoas velhas
Partículas
e coisas maiores
o pó da estrada
acumulado
na passagem dos outros
por ali
Sofrimentos
e o medo deles
espasmo
e sede
muito betão armado
e silêncio frio
Tudo
multiplicado
por duas vezes
depois por muitas
mais
E perdeu-lhes a conta
perdeu
o pé
e o bom senso
Enrolada
na teia
que tece, frenética,
de memórias trocadas
não reconhece o presente
nem sabe onde está
A minha menina tem frio
stop
Possibilidades tem muitas.
Disseram-lhe que só podia escolher a melhor
e vencer sempre.
Por isso não se mexe dali
Disseram-lhe que só podia escolher a melhor
e vencer sempre.
Por isso não se mexe dali
terça-feira, 12 de junho de 2012
o vazio levou tudo
Passou-se ali o quê - entre duas palavras,
um pensamento,
e horas de silêncio?
Passou a morte
e roubou-me
aquela alma,
presa num susto.
E agora
nem o vento ousa
gemer
Não seriam tão penosos
os dias,
se não fossem feitos
destes minutos
estancados.
um pensamento,
e horas de silêncio?
Passou a morte
e roubou-me
aquela alma,
presa num susto.
E agora
nem o vento ousa
gemer
Não seriam tão penosos
os dias,
se não fossem feitos
destes minutos
estancados.
ficou lá
Não poderia entregar
de si mais que uma ausência
presa na espera de quem não virá nunca ao encontro
de si mais que uma ausência
presa na espera de quem não virá nunca ao encontro
quarta-feira, 6 de junho de 2012
mais devagar
Bruscamente, fechou-se.
Se as flores todas se fechassem assim,
Estaríamos uma pilha de nervos,
em alerta,
à espera do próximo estrondo.
Se as flores todas se fechassem assim,
Estaríamos uma pilha de nervos,
em alerta,
à espera do próximo estrondo.
tábuas de salvação
Um destes dias, salvo por uma joaninha
No mês passado, pelo perfume de uma desconhecida
Hoje, foram aquelas nuvens que nem labaredas
No mês passado, pelo perfume de uma desconhecida
Hoje, foram aquelas nuvens que nem labaredas
terça-feira, 5 de junho de 2012
igual a zero
Tudo medido, tudo pesado. Milímetros, partículas, migalhas. Acertos, contabilidades, saldos e dívidas. Memórias de perdas passadas, listas feitas de mágoas e erros - conservadas, emolduradas. Tem tudo guardado. E ficou sem nada.
turbulência
Magoada, se não é entendida. Assustada, quando, empenhado em percebê-la, consegue ler-lhe os medos, fraquezas e insegurança. Poderia ter esperado e saberia se pode confiar, mas foge antes disso, incapaz de se entregar.
segunda-feira, 4 de junho de 2012
mão cortada, não rouba
Feliz
- quase plenamente. Repousada, pelo menos. Segura. E seria assim sempre, se não
fossem aqueles momentos quando a dúvida vinha turvar-lhe a paz e roubar-lhe a
luz. O receio de perder tudo, a suspeita de traição, o medo de ser enganada. Convocados
os fantasmas tremendos da solidão e do abandono, sucumbe, assediada pela
angústia. Em pânico, repete então a fuga desesperada de sempre: antes só, que
apavorada. O passo seguinte, inevitável, é expulsar aquele que, pela razão
precisamente de uma presença e fidelidade, despoletou a insegurança.
terça-feira, 29 de maio de 2012
haja paz
Tece impacientemente
Não como o tecelão,
que tem o tempo que tem o mundo,
mas tece
também longamente.
Ansiosamente, porém.
Receosa,
de si desorientada,
abalada
nos fundamentos.
Tece teimosamente.
Sem raízes, sem prazer.
Como por castigo,
isolada
no degredo.
Aprendeu a gostar deste silêncio,
como quem se afeiçoou
às paredes de um jazigo,
anos depois
de se ter fechado
nelas.
Assaltada pelo medo,
única intimidade,
entregou-se à vertigem,
proprietária daquela sorte,
porque teima nela.
Enche de ecos surdos
o vazio
onde chama luz à penumbra.
Questão de hábito.
Tece um casulo.
E dali não sairá.
Porque ninguém percebeu
que só à força
se arranca à morte um morto.
De respeitos humanos estão as morgues cheias.
Para descanso dos hipócritas e cobardes.
Não como o tecelão,
que tem o tempo que tem o mundo,
mas tece
também longamente.
Ansiosamente, porém.
Receosa,
de si desorientada,
abalada
nos fundamentos.
Tece teimosamente.
Sem raízes, sem prazer.
Como por castigo,
isolada
no degredo.
Aprendeu a gostar deste silêncio,
como quem se afeiçoou
às paredes de um jazigo,
anos depois
de se ter fechado
nelas.
Assaltada pelo medo,
única intimidade,
entregou-se à vertigem,
proprietária daquela sorte,
porque teima nela.
Enche de ecos surdos
o vazio
onde chama luz à penumbra.
Questão de hábito.
Tece um casulo.
E dali não sairá.
Porque ninguém percebeu
que só à força
se arranca à morte um morto.
De respeitos humanos estão as morgues cheias.
Para descanso dos hipócritas e cobardes.
domingo, 27 de maio de 2012
sem pouso
Cercou-se e encerrou-se. Atranvancou-se. Deixou um pequeno orifício para espreitar. Mas assustou-se, com o sopro do seu próprio respirar. Consumiu-a a ansiedade, pobre. E correu a procurar tudo o que tinha em redor, para de tudo fazer defesas, espinhos, carapaça, paus e ferros, armas do fogo que lhe queima a alma. Endureceu, toda ela crispação e medos. Até que, cansada (muito cansada), decidiu fingir-se morta.
E estaria bem, acreditou, se a deixassem assim morrer, sem a chamarem pelo nome, de volta à vida. Coisa irritante, ofensa suprema, desrespeito - agora que estava já meio-morta.
E estaria bem, acreditou, se a deixassem assim morrer, sem a chamarem pelo nome, de volta à vida. Coisa irritante, ofensa suprema, desrespeito - agora que estava já meio-morta.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
miudezas
Acusar os outros de falhas que sabemos nossas, é fraqueza humana compreensível. Acontece aos melhores. Conta é aquilo que fazemos depois de cair em si. O que distingue uma pessoa honesta da gente pequena, é ousar reconhecer. A escolha do batoteiro é transvestir a cobardia em coragem, transformando-a em terrorismo.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Não que não queira
Diz que não. Nem sequer porque não desejasse. Tem é receio de não conseguir. A inquietação que lhe vem desta insegurança, basta para lhe bloquear o desejo. O outro lado da margem torna-se mais distante com cada experiência abortada. Esboroada a confiança, resta-lhe, como única certeza, a crença na fatalidade do fracasso.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Stockholmssyndromet
Um pai
e um complexo de Elektra
Um autista
escondido
atrás de uma imagem
de génio
Perverteu
violou
os sentimentos
apoderou
a sensibilidade
tornou escrava
e cativa
Era só uma menina
esfomeada
de carinho
e sem mãe
que a protegesse
Insinuou-se
na intimidade
de uma alma escancarada
presa fácil
Sabia-se impune
Tinha-a por
indefesa
dependente
e propriedade
Se outros
podiam medi-lo
e perceber
desdenhar
humilhar
calar
afastar
Ela estava-lhe na mão
Dominador
Não hesita
perverter
Paralisou
atrofiou
uma filha
(estava justificado,
dizia não suportar crianças)
Deixou um ser coxo
enclausurada
trancada
nos calabouços
de uma paixão impossível
envenenada
Violada
na alma
nunca mais
soube olhar-se
nos olhos de um homem
entregar-se
acreditar ser amada
O carrasco
tem as chaves
daquele coração
É ali senhor
tirano
modelo
exemplo
meta
Confundida
no mais íntimo
Os homens magoam-na
por não serem
o pai
Quanto mais a amam
mais violenta a repulsa
(não pode abandonar-se,
está comprometida
com o carrasco)
Cresceu no
Stockholmssyndromet
Não pode ser mulher
enquanto
não matar
o pai
terça-feira, 17 de abril de 2012
agora não
Está ocupada
OCUPADA
com nada
Mas finge
vida de esfinge
dá-se ares
sopra apressada
parada
Tem tudo
em espera
mil afazeres
planos
projectos
Um grande livro
a escrever
se não morrer
adiado
desde que o sol
a viu nascer
Tem medo
merece carinho
e repouso
E chorar
choraria
se não estivesse
à espera
ocupada
de fazer nada
OCUPADA
com nada
Mas finge
vida de esfinge
dá-se ares
sopra apressada
parada
Tem tudo
em espera
mil afazeres
planos
projectos
Um grande livro
a escrever
se não morrer
adiado
desde que o sol
a viu nascer
Tem medo
merece carinho
e repouso
E chorar
choraria
se não estivesse
à espera
ocupada
de fazer nada
não dá
Não fala
e não responde
muda
desde que
lhe ficou
preso nas cordas
um sorriso
Mas largá-lo
nem pensar
tem-no seu
sente-o
na posse
Não sabe
(e será
que ainda aprende?)
que cativo
um sorriso
pesa na alma
e não responde
muda
desde que
lhe ficou
preso nas cordas
um sorriso
Mas largá-lo
nem pensar
tem-no seu
sente-o
na posse
Não sabe
(e será
que ainda aprende?)
que cativo
um sorriso
pesa na alma
desânimo
Cruel
pesada
a vida
que se mobila
no jazigo
Não vê
não sente
podia até
dizer
Bem-me-quer
Mas escolheu
fatal
assustada
chamar
a flor
Mal-me-quer
pesada
a vida
que se mobila
no jazigo
Não vê
não sente
podia até
dizer
Bem-me-quer
Mas escolheu
fatal
assustada
chamar
a flor
Mal-me-quer
domingo, 15 de abril de 2012
sábado, 14 de abril de 2012
e na falta tem abrigo
Calcorreia
pisando
a alma
parva
diante dela pasmada
Repisa
sem sentir
(e gemer
seria burro,
pois não há
mais fatal
que piedade
ou desdém,
à intimidade)
Inconsciência
consciente
maldade
por vício
vazio
e defesa
Sente que pisa
e que assim vive
Testa
põe à prova
sem poder
nunca trair
esperar
que não se afaste
Mas teme a si própria
sabendo
que bem pode
sucumbir
à compulsão
e não conseguir
articular um
"Fica"
Dois terrores
a consomem
desassossegam
entregar-se
sem reservas
e não saber
guardá-lo
Quem em calabouços
cresceu
beija-lhes
as paredes,
quem carinhos não teve
sente sua
a falta deles
pisando
a alma
parva
diante dela pasmada
Repisa
sem sentir
(e gemer
seria burro,
pois não há
mais fatal
que piedade
ou desdém,
à intimidade)
Inconsciência
consciente
maldade
por vício
vazio
e defesa
Sente que pisa
e que assim vive
Testa
põe à prova
sem poder
nunca trair
esperar
que não se afaste
Mas teme a si própria
sabendo
que bem pode
sucumbir
à compulsão
e não conseguir
articular um
"Fica"
Dois terrores
a consomem
desassossegam
entregar-se
sem reservas
e não saber
guardá-lo
Quem em calabouços
cresceu
beija-lhes
as paredes,
quem carinhos não teve
sente sua
a falta deles
com vista alegre
Sim, e porque, enfim,
tem nos pergaminhos
a segurança,
tudo demasiado pequeno
para ter onde
assentar os pés
e saber quem é
Mas que outra via,
querendo traçar fronteiras
em país de Liliput,
haveria,
senão erguer muros
a cortar a luz
para que claro fique
sermos nós,
que o vizinho, muito mais?
Ficaram
vã-glórias
ilusões acalentadas
em detalhe
e só
guerras e veneno
pois, mais que o nome
e admiração pelos antepassados,
contam
a cómoda, o anel, a moradia
e o Vista Alegre
tem nos pergaminhos
a segurança,
tudo demasiado pequeno
para ter onde
assentar os pés
e saber quem é
Mas que outra via,
querendo traçar fronteiras
em país de Liliput,
haveria,
senão erguer muros
a cortar a luz
para que claro fique
sermos nós,
que o vizinho, muito mais?
Ficaram
vã-glórias
ilusões acalentadas
em detalhe
e só
guerras e veneno
pois, mais que o nome
e admiração pelos antepassados,
contam
a cómoda, o anel, a moradia
e o Vista Alegre
domingo, 8 de abril de 2012
quando um dia
Quando o tempo te agarrar
pelas pernas
perras
quando as ilusões te deixarem
a sós
com a memória
de outros desencontros
Quando ecos
de presunções antigas
fizerem voz surda
com as sombras
de cálculos falhados
e o vazio
não admitir máscaras
Quando os fantasmas
tiverem esgotado
promessas impossíveis
e o silêncio
gritar o engano
de uma vida
mal apostada
Deixa que fale
a sede
em ti calada
tanto tempo
por medos algemada
de um toque
carinho e presença
pelas pernas
perras
quando as ilusões te deixarem
a sós
com a memória
de outros desencontros
Quando ecos
de presunções antigas
fizerem voz surda
com as sombras
de cálculos falhados
e o vazio
não admitir máscaras
Quando os fantasmas
tiverem esgotado
promessas impossíveis
e o silêncio
gritar o engano
de uma vida
mal apostada
Deixa que fale
a sede
em ti calada
tanto tempo
por medos algemada
de um toque
carinho e presença
sábado, 31 de março de 2012
Persinette, descendez vos cheveux..
Un jour que Persinette était seule à sa fenêtre, elle se mit à chanter le plus joliment du monde.
Un jeune prince chassait dans ce temps-là, il s'était écarté à la suite d'un cerf; en entendant ce chant si agréable, il s'en approcha et vit la jeune Persinette, sa beauté le toucha, sa voix le charma. Il fit vingt fois le tour de cette fatale tour, et n'y voyant point d'entrée, il pensa mourir de douleur, il avait de l'amour, il avait de l'audace, il eût voulu pouvoir escalader la tour.
Persinette, de son côté, perdit la parole quand elle vit un homme si charmant, elle le considéra longtemps tout étonnée, mais tout à coup, elle se retira de la fenêtre, croyant que ce fût quelque monstre, se souvenant d'avoir ouï dire qu'il y en avait qui tuaient par les yeux, et elle avait trouvé les regards de celui-ci très dangereux.
Le prince fut au désespoir de la voir ainsi disparaître; il s'informa aux habitations les plus voisines de ce que c'était, on lui apprit qu'une fée avait fait bâtir cette tour, et y avait enfermé une jeune fille. Il y rôdait tous les jours.
(Mademoiselle de La Force)
Un jeune prince chassait dans ce temps-là, il s'était écarté à la suite d'un cerf; en entendant ce chant si agréable, il s'en approcha et vit la jeune Persinette, sa beauté le toucha, sa voix le charma. Il fit vingt fois le tour de cette fatale tour, et n'y voyant point d'entrée, il pensa mourir de douleur, il avait de l'amour, il avait de l'audace, il eût voulu pouvoir escalader la tour.
Persinette, de son côté, perdit la parole quand elle vit un homme si charmant, elle le considéra longtemps tout étonnée, mais tout à coup, elle se retira de la fenêtre, croyant que ce fût quelque monstre, se souvenant d'avoir ouï dire qu'il y en avait qui tuaient par les yeux, et elle avait trouvé les regards de celui-ci très dangereux.
Le prince fut au désespoir de la voir ainsi disparaître; il s'informa aux habitations les plus voisines de ce que c'était, on lui apprit qu'une fée avait fait bâtir cette tour, et y avait enfermé une jeune fille. Il y rôdait tous les jours.
(Mademoiselle de La Force)
encantamento
Tenho uma donzela na torre alta de um castelo, encantada por feitiço que a prende - e a mim mata.
sexta-feira, 30 de março de 2012
arrasta
Numa roda viva
imobilizada
são perguntas
respondidas
cuja dor
não aceita
Intelectualmente
armadilhada
nos sentimentos
paralisada
flirta com a devastação
a portas fechadas
Arrasta tempos
idos
passado meditado
calcorreado por castigo
prisioneira
de velhas hesitações
imobilizada
são perguntas
respondidas
cuja dor
não aceita
Intelectualmente
armadilhada
nos sentimentos
paralisada
flirta com a devastação
a portas fechadas
Arrasta tempos
idos
passado meditado
calcorreado por castigo
prisioneira
de velhas hesitações
desorientada
Paralelos
traçados
surpresas
caos da vontade
quando
a si deixada
Tortura
este fingir
aumentada
pelo vício
infantil
duma velha praxe
Ama
quando quer
ou espera
submissa
pelo impulso
sujeita e cativa?
Respostas
quereria
se as não temesse
ou não fosse
a inteligência
peso cruel.
traçados
surpresas
caos da vontade
quando
a si deixada
Tortura
este fingir
aumentada
pelo vício
infantil
duma velha praxe
Ama
quando quer
ou espera
submissa
pelo impulso
sujeita e cativa?
Respostas
quereria
se as não temesse
ou não fosse
a inteligência
peso cruel.
a menos que
Solidão. Escolhida, por medo daquela imposta. Jogo de forças, sujeito de fraquezas soberanas. Não havendo surpresas, talvez tenha a sorte de iludir os medos fundos.
o trabalho dá sentido
Ali está. E trabalha, que o trabalho dá sentido. Sem perceber (ainda bem) a perversão: sabe o trabalho ser tirano, quando lhe é dada primazia. Antes não o perca, para não cair, pobre, no vazio. Ou antes perca, se algum dia tiver de conhecer outros céus mais altos.
segunda-feira, 26 de março de 2012
sábado, 24 de março de 2012
sal
Subterrâneo sentimento
o medo da luz,
não vá a vida
surpreender
e pôr a nu
toda a fraqueza
Cais de espera
onde
coração nenhum
embarca,
de viagens falhadas
refém
Detalhadamente
em pormenor
minuciosamente
flagelada
pela memória
de oportunidades recusadas
A coerência
perversa
insiste,
tantos erros passados,
na pena máxima
e repete o rejeitar
E a mulher de Lot
olhou para trás
e ficou convertida
numa estátua de sal.
o medo da luz,
não vá a vida
surpreender
e pôr a nu
toda a fraqueza
Cais de espera
onde
coração nenhum
embarca,
de viagens falhadas
refém
Detalhadamente
em pormenor
minuciosamente
flagelada
pela memória
de oportunidades recusadas
A coerência
perversa
insiste,
tantos erros passados,
na pena máxima
e repete o rejeitar
E a mulher de Lot
olhou para trás
e ficou convertida
numa estátua de sal.
Não lhe ocorreu
Era mais fácil
querer
por receio de não ter
Mais forte que ela
Sofria, vítima,
incerteza
ciúme
torturas íntimas
Abaixo
da linha do mar
em emoções indomáveis
submersa
Desfalecida
à morte
sujeita
Coisa perversa
Deste amor
assim paixão
martírio imaturo
a criança quer repouso
Conhece apenas
ter pé
e o medo
de afogar
querer
por receio de não ter
Mais forte que ela
Sofria, vítima,
incerteza
ciúme
torturas íntimas
Abaixo
da linha do mar
em emoções indomáveis
submersa
Desfalecida
à morte
sujeita
Coisa perversa
Deste amor
assim paixão
martírio imaturo
a criança quer repouso
Conhece apenas
ter pé
e o medo
de afogar
Não confessa
Marca passo
a poesia
e a alma rebela-se
torturada
não vá inteira
esvair-se
a água deste rio
Embala.
Mas não confessa
se traz a morte
ou quer dar
vida
e um regresso
a poesia
e a alma rebela-se
torturada
não vá inteira
esvair-se
a água deste rio
Embala.
Mas não confessa
se traz a morte
ou quer dar
vida
e um regresso
Derrotada
Marca passo
a poesia
batente
em portas fechadas
irreverente
paixão
pelo cálculo
derrotada
grita calada
de viva voz
a poesia
batente
em portas fechadas
irreverente
paixão
pelo cálculo
derrotada
grita calada
de viva voz
sábado, 17 de março de 2012
sábado, 10 de março de 2012
Nem todo o escuro é medo
Nem todo escuro é medo
se não aquele
que portas fecha
nem todo o sofrer destrói
e sangrar não mata
Uma vida arrumada
limpa
iluminada
engana
Paredes caiadas
podem esconder
o horror
Antes amar e errar
se por medo de errar
não ousas
O tempo não espera
quem no caminho
ignora
uma porta aberta
se não aquele
que portas fecha
nem todo o sofrer destrói
e sangrar não mata
Uma vida arrumada
limpa
iluminada
engana
Paredes caiadas
podem esconder
o horror
Antes amar e errar
se por medo de errar
não ousas
O tempo não espera
quem no caminho
ignora
uma porta aberta
teimosa
Aprendiz de vida
há-de morrer
Antes, porém
muito antes
morria por ela a morte
dos encantos
presa fatais
E roubá-la
à vida
levá-la
morta a morte
de ciúmes fulminada
impaciente
deseja
Perdição anunciada
esta obsessão
que faz da morte
escrava
duma mulher teimosa
na paixão
há-de morrer
Antes, porém
muito antes
morria por ela a morte
dos encantos
presa fatais
E roubá-la
à vida
levá-la
morta a morte
de ciúmes fulminada
impaciente
deseja
Perdição anunciada
esta obsessão
que faz da morte
escrava
duma mulher teimosa
na paixão
sucumbir
Más as línguas
que tua doçura
sentem
podem azedas
ser?
Temem
porventura
o efeito
que aflige
a minha alma?
Sucumbir
ao doce suspirar,
nos olhos teus
naufragar,
da tua voz
prisioneiro ficar?
Já não sei
se morrer prefiro
aqui agora
de saudades
se ser moído
lentamente
pelas mós
dessa doçura
fatal.
que tua doçura
sentem
podem azedas
ser?
Temem
porventura
o efeito
que aflige
a minha alma?
Sucumbir
ao doce suspirar,
nos olhos teus
naufragar,
da tua voz
prisioneiro ficar?
Já não sei
se morrer prefiro
aqui agora
de saudades
se ser moído
lentamente
pelas mós
dessa doçura
fatal.
quem pode
Deixar o poeta entrar
é arte que
tem de fogo
a força de uma luz
Mas pode queimar
não vá o poeta
em chamas
o interior incendiar.
Arderá ele por certo
consumido
pela emoção.
É um risco
que só corre
quem tem poder
para tal
Ou com o fogo brinca
como a criança
com a paixão.
é arte que
tem de fogo
a força de uma luz
Mas pode queimar
não vá o poeta
em chamas
o interior incendiar.
Arderá ele por certo
consumido
pela emoção.
É um risco
que só corre
quem tem poder
para tal
Ou com o fogo brinca
como a criança
com a paixão.
sem ela
Nada mais avassalador
para o aprendiz de poeta
que saber cativa
a musa
ter fugidia
longe
a princesa
que o sono
lhe tira
sem poder tocar
ouvir-lhe a voz
bastaria
para se encontrar
com a alma
que lhe entregou
Cativo ele
sem ela
tem o mundo
vasto
por prisão
enquanto ela tem a cela
Vive de acendalhas
que apanha
ávido
palavras dela soltas
que acendem
a chama de versos novos
para o aprendiz de poeta
que saber cativa
a musa
ter fugidia
longe
a princesa
que o sono
lhe tira
sem poder tocar
ouvir-lhe a voz
bastaria
para se encontrar
com a alma
que lhe entregou
Cativo ele
sem ela
tem o mundo
vasto
por prisão
enquanto ela tem a cela
Vive de acendalhas
que apanha
ávido
palavras dela soltas
que acendem
a chama de versos novos
Mais medo de abrir que de fechar
Fechar, eu sei.
Abrir é que não.
Entram vândalos, ventos..
E mesmo o amor,
não esconde atrás dele
a rejeição?
Inteira me sinto.
Se me encosto,
quando te afastares, caio.
Se te encostas
é mais um peso.
Deixa-me ficar
no vazio
que é meu
Dele não há traição
Não me ama,
mas eu também não.
Cuidado
Tenho quatro espinhos
para os tigres.
Abrir é que não.
Entram vândalos, ventos..
E mesmo o amor,
não esconde atrás dele
a rejeição?
Inteira me sinto.
Se me encosto,
quando te afastares, caio.
Se te encostas
é mais um peso.
Deixa-me ficar
no vazio
que é meu
Dele não há traição
Não me ama,
mas eu também não.
Cuidado
Tenho quatro espinhos
para os tigres.
assédio cerrado
Infinita
essa noite de trevas
onde teimosa percorres
sendas tortuosas
do desespero antigo.
Que penas mais
para quem penas tem
castigos se impõe
incapaz de se dar
repouso.
Deixei de ouvir
um coração bater
não porque frio
desde que um muro
ergueu.
Montou-se um cerco
assédio cerrado
feito de fantasmas
por ela paridos
acalentados.
essa noite de trevas
onde teimosa percorres
sendas tortuosas
do desespero antigo.
Que penas mais
para quem penas tem
castigos se impõe
incapaz de se dar
repouso.
Deixei de ouvir
um coração bater
não porque frio
desde que um muro
ergueu.
Montou-se um cerco
assédio cerrado
feito de fantasmas
por ela paridos
acalentados.
entre dois pontos
Uma linha recta seria
o caminho mais
curto
entre dois pontos.
Se assim quisesses.
Um atalho a direito
uniria
dois pontos
sem os perder.
Assim deixasses.
o caminho mais
curto
entre dois pontos.
Se assim quisesses.
Um atalho a direito
uniria
dois pontos
sem os perder.
Assim deixasses.
L'amour
"L'amour a été inventé par les femmes pour permettre à ce sexe de dominer alors qu'il était fait pour obéir"
Jean-Jacques Rousseau
Jean-Jacques Rousseau
sexta-feira, 9 de março de 2012
Recuar
Este presente que o não é
paralisado pelas memórias venenosas
do passado
repisado
Decisões que o não são
travadas por mil receios
capazes somente
de fugir e recuar
Sonhos que nada serão
penosas mascaradas
que evitam apenas
abraçar o presente
Amores que nada são
efémeras construções
que simulam
alternativas
A liberdade que o não é
nome falso de calabouço
onde livre se é apenas
de ousar
Na alma, tristeza lancinante
um gemido surdo
medo antigo
algemam-na, cativa
A minha menina sofre triste
com tanta felicidade adiada
já nem lembra o que é viver
foge ao sol e à luz
Tragam-me a minha princesa
vão-ma buscar, àquela torre
soltem-na, fantasmas vazios
Entreguem-ma, que é minha
paralisado pelas memórias venenosas
do passado
repisado
Decisões que o não são
travadas por mil receios
capazes somente
de fugir e recuar
Sonhos que nada serão
penosas mascaradas
que evitam apenas
abraçar o presente
Amores que nada são
efémeras construções
que simulam
alternativas
A liberdade que o não é
nome falso de calabouço
onde livre se é apenas
de ousar
Na alma, tristeza lancinante
um gemido surdo
medo antigo
algemam-na, cativa
A minha menina sofre triste
com tanta felicidade adiada
já nem lembra o que é viver
foge ao sol e à luz
Tragam-me a minha princesa
vão-ma buscar, àquela torre
soltem-na, fantasmas vazios
Entreguem-ma, que é minha
sexta-feira, 2 de março de 2012
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Falta o pé
Resvalar é mais fácil do que parece.
E assim é, ainda, no momento que precede
a queda.
Não tinha que ser,
não to disse?
Estatelado,
nem sequer me vês,
riscado do teu horizonte.
Se a certeza de me teres
me retira valor,
o vazio que fica
é-te consolação?
Ou vives uma ilusão?
Que vida tem esse vazio?
Encheste-lo de ti?
Sabes o que é dar
sem receber?
Sabes o que é chorar?
Que sabes tu do sofrer,
nessa insistência
em te protegeres?
Sabes lá..
Os tormentos são
nenhuns,
se não os teus.
Alheia a dor
que não sentes.
De pau e palha,
a carne que não
a tua.
Morto me enterrarias
e vivo,
sem hesitar.
Morto me matarias,
e moribundo
deixarias.
Sem queixas
nem saudades.
Frio, este gelo,
com que uma das duas
nos castiga.
Mas se me confundes
com ela-tu que te traz cativa,
e a mim acusas
daquilo que te faz,
como posso libertar-te?
Resta-me só
ficar contigo de ti
cativo,
sem que sequer
as culpas
comigo partilhes?
E assim é, ainda, no momento que precede
a queda.
Não tinha que ser,
não to disse?
Estatelado,
nem sequer me vês,
riscado do teu horizonte.
Se a certeza de me teres
me retira valor,
o vazio que fica
é-te consolação?
Ou vives uma ilusão?
Que vida tem esse vazio?
Encheste-lo de ti?
Sabes o que é dar
sem receber?
Sabes o que é chorar?
Que sabes tu do sofrer,
nessa insistência
em te protegeres?
Sabes lá..
Os tormentos são
nenhuns,
se não os teus.
Alheia a dor
que não sentes.
De pau e palha,
a carne que não
a tua.
Morto me enterrarias
e vivo,
sem hesitar.
Morto me matarias,
e moribundo
deixarias.
Sem queixas
nem saudades.
Frio, este gelo,
com que uma das duas
nos castiga.
Mas se me confundes
com ela-tu que te traz cativa,
e a mim acusas
daquilo que te faz,
como posso libertar-te?
Resta-me só
ficar contigo de ti
cativo,
sem que sequer
as culpas
comigo partilhes?
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